Investigação da “Entidade-Eu”
Digamos que seu nome seja Maria, e você fosse predominantemente do sexo feminino.
O nome podia ter sido João e do sexo masculino que o desenrolar da
investigação ia ser a mesma coisa.
Vamos então investigar a suposição tão carinhosamente
aceita de um eu, de uma entidade pessoal independente, o "Eu-Maria"
.
O que é esse "Eu-Maria"?
Não é o senso de autoria pessoal?
A crença, criada ao redor do senso de....
Eu penso, logo existo, (à la Descartes)
Eu decido, escolho, opto, tenho discernimento, calculo, avalio entre opções,
de maneira que eu existo,
E faço minha decisão final, então eu existo,
Eu atuo, logo eu existo,
Eu planejo conseguir X,Y,Z, então eu existo,
Eu consigo X, Y, Z então eu existo.
Eu falho em conseguir X, Y, Z e talvez eu seja um perdedor miserável,
mas pelo amor de deus, eu existo.
etc, etc, etc...
É esse falso manto de subjetividade (para fins conceituais, claro),
que acredita que está em
contato cognitivo com o mundo objetivo,
dessa forma nasce o senso de separação e a miséria da
dependência.
Que seja.
Examine então, essas suposições profundamente arraigadas.
Examine "suas" decisões, "suas" ações,
"suas" crenças e "suas" compreensões, que
aconteceram no passado.
Pegue ai 5 ações suas, ou pensamentos, decisões, das
quais você "Maria" está absolutamente convencida, de
que eram "suas" ações, "seus" pensamentos,
e sobre os quais você está absolutamente convencida que tenham
surgido das sua vontade independente.
Preferivelmente, aquelas que tiveram um impacto tremendo na sua vida, à
medida que for lembrando os detalhes.
E destrinche isso.
Isso é, siga para o pensamento ou ação imediatamente
precedente.
O que você tinha pensado, ou feito, antes desse pensamento ou ação
sob investigação.
E dai, novamente para a ação ou pensamento precedente.
E assim por diante.
Se você for brutalmente honesta consigo mesma, e voltar o suficiente,
você vai chegar, em toda e cada ação, em todo e cada pensamento,
dos quais você estava convencido de que eram "suas" ações,
você vai chegar a um ponto de "gênese", que foi a ocorrência
de um pensamento não-volitivo, que apareceu de lugar nenhum.
E que agiu como um "gatilho" para todo esse processo se iniciar
no complexo corpo-mente, rotulado de "Maria".
o que é esse processo?
O "pensamento-gatilho" original, se transforma, por assumir um autoria,
se transforma em "meu" pensamento (e assim o "eu" nasce),
o que desencadeia uma série de pensamentos secundários, alguns
dos quais se convertem em "minhas" decisões.
Algumas dessas "minhas" decisões, são atualizadas
externamente em forma de "minhas" ações, e uma série
de "minhas" ações é o "meu" comportamento,
"minhas" conquistas, "meus" valores, "minha"
compreensão, "minhas" experiências, "minhas"
realizações, etc, etc...
De qualquer maneira, a gênese de toda e cada ação ou pensamento
é o pensamento não-volitivo que aparece como que de lugar nenhum.
A Fisica Quântica agora descreve "pensamento" com um "função
de onda" que representa uma possibilidade particular, uma probabilidade
particular e essa ocorrência não-volitiva é considerada
como um "colapso" de uma função particular da onda,
dentro do Infinito Campo de todas as Funções de Ondas.
Além disso, os experimentos do neurocirurgião Dr. Benjamim Libet
mostram que entre a ocorrência do gatilho não-volitivo original
e o surgimento da autoria, existe um lapso temporal de 500 milisegundos.
Uma invalidação científica do eu pessoal com seu livre arbítrio, algo de que os místicos vêm falando por milhares de anos.
O princípio operacional de todo o processo, o surgimento da autoria,
a produção de pensamentos secundários, o tipo de decisão
tomada, a forma da ação que isso resultou, etc, etc... é
o "condicionamento-no-momento".
O que é condicionamento-no-momento?
"Maria" não escolheu qual espermatozóide, entre os
milhões ejaculados pelo seu pai, se uniria com o óvulo de sua
mãe, formando o complexo óvulo-esperma, com uma estrutura de
DNA única.
É essa estrutura original de DNA, que vai sofrer os impactos das intervenções
do meio-ambiente. Intervenções tais quais ditames paternos,
educação ou ausência de educação, intervenções
de amigos, valores sociais, intervenções vindas do campo da
religião ou espiritualidade ( ou ausência disso) dentro das quais
"Maria" cresceu, intervenções de experiências
que o complexo corpo-mente rotulado de "Maria" teve durante o tempo
de sua vida, etc, etc... etc.
São essas intervenções, sob as quais "Maria"
não teve controle algum, que afetaram o estrutura original de DNA,
para formar o "condicionamento-no-momento" no complexo psicofísico
rotulado de "Maria".
A intervenção continua, momento a momento, alterando, apurando,
mudando a estrutura original de DNA, dai o termo "condicionamento-no-momento".
E é esse condicionamento-no-momento que caracteriza a resposta de "Maria",
no momento, a uma intervenção, naquele mesmo momento.
No entanto, não há nenhuma "Maria" dentro da pintura.
Igual ao computador, no qual você está lendo esses símbolos
estranhos.
O computador não tem liberdade para produzir qualquer resposta, exceto
as que estão carregadas no sistema operacional (DOS, Windows or Linux)
em relação a uma intervenção que é a digitação
no teclado.
O complexo psicofísico humano não é nada mais do que
um computador biológico mais complicado.
Com uma diferença chave.
No computador, isso ocorre uma vez o Windows é carregado, quer dizer,
até você desinstalar o Windows e instalar o Linux...
No computador biológico, a intervenção, para a qual o
condicionamento-no-momento estabelece uma resposta, também afeta o
condicionamento-no-momento existente, de uma maneira dinâmica.
Uma dança do Yin-yang.
De forma que ela não é como que marcada em pedra como no caso
do computador.
Sem dúvida você vai notar Maria, para exemplificar, que as mesmas
situações não te afetam, exatamente da mesma maneira,
em diferentes momentos no tempo.
Ou a mesma “profundidade” não invocará o mesmo senso
de admiração em diferentes momentos.
O condicionamento-no-momento foi alterado.
E isso não é bobeira espiritual, mas conclusões da neurociência
e de estudos comportamentais.
Uma reportagem interessante que apareceu na revista "New Scientist":
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........Por exemplo, Especialistas em Leis, estão começando a se preocupar sobre o fato de que a neurobiologia pode detonar as fundações dos sistemas legais ocidentais e o conceito de direitos humanos.
Eles tem boas razões para se preocuparem. Neurobiólogos e neurofilósofos
da consciência tais quais Patricia Churchland da Universidade de San
Diego zombam da possibilidade de escolha voluntária, livre árbítrio,
e conceitos similares como sendo mera "psicologia senso comum".
E de fato a consciência pode ter surpreendentemente pouco impacto de
afetar o comportamento, de acordo com alguns dos trabalhos que estão
saindo agora dos laboratórios de pesquisa.
Por exemplo, neurobiólogos mediram quanto tempo certas percepções
visuais demoram para registrar-se na consciência, disse Jeffrey Gray,
neurobiólogo do Instituto de Psiquiatria de Londres. Esse lapso de
tempo--por volta de 200 milisegundos--significa que uma estrela do Tênis
no torneio de Wimbledon deve rebater um saque bem antes de ficar consciente
da aproximação do saque.
"Nossa experiência cotidiana de ter experiências conscientes e agir por causa delas é, na maioria dos casos, uma ilusão," diz Gray. "A consciência ocorre muito tarde para poder afetar o comportamento."
Mas se isso é verdade, então nossa querida noção
de que podemos fazer uma escolha voluntária e consciente entre o bem
e o mal vai direto para a cesta de lixo. E com isso vai também a base
do nosso sistema legal, disse David Hodgson da Suprema Corte de New South
Wales, o único advogado a falar na conferência.
A tradição legal Ocidental é fortemente investida do
conceito de intencionalidade, falou Hodgson - Para ser culpado de um crime,
a pessoa deve conscientemente escolher cometer o ato ilegal.
Aqueles que não tem consciência de suas ações ou que foram coagidos por circunstância além do controle não podem ser incriminados.
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Voltando à analogia do computador, qual é a "teclado"
para o computador biológico?
O ocorrência de um pensamento, que a Mecânica Quântica explica com um colapso de uma função particular de onda representando uma possibilidade, probabilidade, dentro do infinito campo de todas as probabilidades.
Voltemos então à chamada estrutura original de DNA, que foi
o nascimento de "Maria".
Dificilmente ela é de fato original.
Pois carrega consigo a informação genética, dos seus
pais, que por sua vez a carrega de seus respectivos pais, e o processo, vai
mais e mais fundo, até podermos perceber que o complexo psicofísico
chamado "Maria" , que existe hoje, é o ápice da evolução
desde a Mãe Africana há alguns milhões de anos.
E por que parar na Mãe Africana?
O projeto do Genoma Humano, mostra que você "Maria", carrega
o código genético de uma ameba unicelular, que vivia das águas,
alguns bilhões de anos atrás.
E porque parar ai?
O que "Maria" ou X, Y, Z é hoje, não poderia sê-lo,
se o Big-Bang tivesse acontecido da forma como ele aconteceu.
Para qualquer coisa acontecer, Maria, até mesmo algo como "sua"
decisão de coçar o nariz, ou de realizar seu mais alto potencial
espiritual, nenhum desses eventos podem ocorrer, ao menos que o inteiro universo
tenha convergido para aquele evento.
Isso é o que estava implicado na sentença Taoísta "solte
uma folha de grama e todo o universo é sacudido".
A pressuposição de uma entidade individual é uma noção,
uma idéia, uma inferência.
De forma que, se através do exercício de destrinchar a autoria das ações, é percebido o fato de que, nenhuma de "minhas" ações são "meu" feitio, nenhum de "meus pensamentos" é "meu" pensamento, então esse "eu" poderia ter alguma realidade existencial independente?
Isso é o que o "Eu-Maria" tem que investigar e chegar à essa conclusão. Destrinchando algumas de suas mais profundas ações e pensamentos, dos quais ela está/estava convencida que fossem "suas" ações, "seus" pensamentos.
Agora, estivemos falando que a "entidade-eu" não pode fazer
nada.
Então como é que o "Eu-Maria" poderia fazer, mesmo
esse exercício de investigação?
Esse texto se torna uma "intervenção" no complexo
psicofísico rotulado de "Maria".
Se a entidade rotulada "Maria" vai ficar intrigada o suficiente
para averiguar a ilusão da "entidade-eu" através do
exercício de destrinchamento da autoria, e se fizer, será brutalmente
honesta, adentrará o suficiente, etc, etc...
Ou concluir que, o que está sendo dito é tudo lixo..........
adivinha?
Isso não está nas mãos da entidade chamada "Maria".
Qualquer que seja a resposta, dada à esse texto-intervenção, vai ser a resposta apropriada desenhada pelo condicionamento-no-momento em "Maria"
Divirta-se e compartilhe, se você quiser, detalhes específicos
de algumas investigações que aconteceram.
Podemos então, se houver interesse, dar uma olhada pra tentar resolver
a segunda parte da equação.